Sou um privilegiado!
Às vezes, me indago…
Quantas vidas tive que viver
Até voltar a ser o atual ser
E receber do Criador o afago
Dos privilégios que me concedeu?
Por quê eu?
Quando caminho e ouço sonoros cantos
Que se espalham por todos os cantos,
Dentre as árvores que me abrigam,
Mesclados às músicas eruditas
Vindas da modernidade do celular,
E como são benditas…
Suavizando o meu andar
Só porquê a tudo posso escutar…
E percebo que posso sentir
Os perfumes da Natureza,
Que me envolve com sua beleza,
O que me leva a sorrir…
Já sei o que é existir,
Onde parar e aonde ir,
Passos, com minhas pernas, posso dar,
Posso correr ou deambular
E meu viver aprimorar.
Escuto, então, a minha voz
Distraída a cantarolar
Os sons que recebo do celular,
Enquanto estou a me exercitar.
Prática que herdei da infância
E, ainda hoje, é ressonância
Do que necessito para viver e devo cumprir para merecer
A longa vida que já tenho
E já me enrugou o cenho
Sem me tirar a energia
Nem, tampouco, a inspiração,
Que brota do coração
E escorre até a minha mão
E se transmuda em poesia,
Que, não sei se boa ou não,
Me ajuda a narrar o que vejo,
O que ouço e o que sinto.
E aqui não posso mentir e não minto:
É privilégio e missão!
Da qual não devo e não quero
Abdicar ou, ainda menos, desistir
Pois à vida preciso descrever –
Não sei se sou eu, em mim, ou outro ser –
Mas instrumento sei que sou
E nunca fico onde vou…
Atributos me foram doados,
Com abundância, reconheço,
Acho que por ser um recomeço,
Acompanhados de muitos fardos,
Amealhados em passados…
Nunca fui abandonado,
Males do corpo superados
Pela força compensadora
Da persistência tresloucada,
Inconsequente e criadora
De tantas vidas redentora.
Por conhecer o sim sem ignorar o não.
A percepção do Sopro sussurrado,
Muito perto do Portal de acesso,
Bem pertinho do meu começo:
– “Mais uma vez, viva! –
“Lute, faça viver e sobreviva”
Remanesce em minha mente…
E me ajuda a cumprir a sina
De lutar, perdendo ou ganhando,
Superando tal desígnio com calma,
A viver, de novo, com minha gêmea alma.
Sou um privilegiado…
Confesso!
Joffre Sandin
30 de novembro de 2020.