NÃO SEI SE SOU
Olho ao meu redor, reflito, mas não sei se sou…
No céu, na terra e até no chão,
Donde brota a água que o morro desce,
Cortando valas, rasgando o vão,
Rompendo fendas, caudal que cresce
Sem resistência sempre a buscar
As águas verdes do azul do mar.
Vida lutada por ser vivida,
É luta ganha ou é perdida.
Beleza vista com alegria,
Tristeza pura que é nostalgia,
Na rua crua dos deprimidos,
Que os torna frios – até bandidos.
.
Do sofrimento que é emoção
Da ternura aflita do querer em vão,
À sensação incrível do sentir amor,
Inda que às vezes lacerante dor,
Mas que, atrevida, conquista a alma,
Destruindo o senso, o zelo, a calma.
As cores, os sons, os bons e os maus,
Obstáculos, barreiras, estorvos, degraus,
Caminhos retos, tortos ou com desvios,
A se percorrer serenos, ou aos desvarios,
Assim escolhemos os nossos trilhos
E neles crescem os nossos filhos.
E, como vemos, já tudo existe,
De nada importa se alegre ou triste,
A arte é viva e à frente está,
Em qualquer ponto… Aqui ou lá,
É só o homem que a quer achar
Saber ver, saber sorrir e saber chorar.
Mas, dentre eles, há o que sente
Em cada coisa, vida ou mente,
Tudo que emana da dor profunda,
E o que emerge do amor que inunda
A alma que é aura do que é ser
Humano herdeiro de aqui viver.
Aos mais sensíveis Deus deu os dons,
Pra extrair da vida os sons,
Somando notas, enchendo pautas,
Em suas mentes as melodias.
Alternam acordes em sinfonias,
Navegam músicas de que são nautas.
Outros, então, do mundo as cores
Prendem nas telas em seus matizes,
Com seus pincéis e seus pendores,
Dão vida à vida, criam raízes,
Tiram do tempo os elementos,
Pintam a lida em seus momentos.
E os poetas…O que eles fazem?
Juntando letras, palavras, frases,
Escavam o íntimo do que existe,
Lá encontrando o que é triste,
Desde o complexo dos incapazes
Ao orgulho tolo que os tolos trazem.
Com o amor produzem versos,
Muitos sofridos se de amor reversos,
Rima constante de uma paixão
É, quase sempre, uma traição.
Amam e odeiam em fantasia,
Sentimentos gêmeos numa poesia.
Mas como expor sem ter receio,
Tudo o que sinto em devaneio,
Tudo o que explode em minha mente,
O que flutua num mar ardente,
Das coisas da vida, que a vida mostrou,
Do sentimento puro que ainda restou?
Só mesmo tentando ser o que não sei se sou.
Joffre Sandin
16/12/2007