MÃOS

Intensos e poderosos instrumentos
São as mãos em todos os momentos,
Desde o afagar do seio que alimenta
Ou empolgar o livro que acrescenta,
A participarem de rodas e folguedos,
Dos jogos e de todos os brinquedos…

Apêndices de tal forma úteis,
Mesmo nas horas mais fúteis,
São capazes de tantas proezas
Nas alegrias e, também, tristezas.
Abraçam e excitam o namoro
E enxugam as lágrimas do choro…

Incríveis ferramentas da arte
São do corpo imprescindível parte
Ao maestro que rege a orquestra
Empunhando a batuta mestra
A liderar músicos em tantas vias
Encantando mentes com melodias…

Concedem ao artista produzir beleza
Com o que vê e sente na natureza
Esculpindo a pedra com seu cinzel
Pintando as telas com seu pincel
Colhendo do mundo o que extasia,
Lápis e papel: a própria vida é a poesia…

Por qualquer caminho ou atalho
Encontram sua razão no trabalho
Produzem coisas e alimento,
Do povo sério sendo o alento,
Mitigam sofrimento e dores
Nas habilidades de alguns doutores…

Às vezes, entanto, têm mal uso
Servem elas à força e ao abuso
Destratam, ofendem e maltratam
Excedem do poder e, até, matam
São mãos de donos com tristes sinas
Que as podem fazer assassinas…

Outras, por sua vez, mercenárias
Pertencem a modernos párias
Ora travestidos de políticos
E que desdenham de seus críticos
Em discursos e remorsos vãos
Palavras sujas pelas próprias mãos…

Por certo, o mal é a exceção
E o que vale mesmo é a emoção
Quando se entrelaçam ardentes,
Companheiras que são do amor
Ou quando amparam os carentes,
Delicadas ao tocarem a flor

Nascem pequenas, fofas e calmas
E crescem logo, e batem palmas
Em festas, progresso e na vitória
Para cada ser há uma história
De quase tudo são as autoras
Em qualquer enredo as lutadoras…

Mas envelhecem, a vida passa…
E não lhes falta uma nova graça
Embora trêmulas e enrugadas,
Ensinam coisas, mostram estradas
Afagam cabelos de novos entes,
Que a sorte lhes deu como presentes…

Joffre Sandin

“MEA CULPA”

Estou tão triste
E é por vê-la tão triste…

Busco na lembrança
Até onde minha mente
Tresloucada alcança
Onde plantei a semente
Que germinou a descrença
E refreou a esperança.

Estou tão triste
E é por vê-la tão triste…

Sei que sem perceber,
Nem sentir, nem querer
A tenho feito infeliz
E não porque assim quis,
Mas por não atinar
Com o quanto a posso magoar.

Estou tão triste
E é por vê-la tão triste…

Sem me poder desculpar
Já que não paro de errar
Ainda que a tenha tão perto
Não encontro o caminho, por certo,
Que a traga pra junto de mim
E sufoque sua mágoa, enfim.

Estou tão triste
E é por vê-la tão triste…

Aceito que a culpa me cabe
E também que ela já sabe
Que perdi o caminho e a mão,
Que não sei mais o que é sedução,
Mesmo amando com tanto fervor,
Incompetente ao mostrar meu amor.

Estou tão triste
E é por vê-la tão triste…

A tristeza no olhar me fere
Tal qual o cinzel que desfere,
Na pedra mais dura o artista,
Para expor o que lá exista,
No meu âmago se encontra gravado
Como é injusto o meu pecado!

Estou tão triste
E é por vê-la tão triste…

Sei que minh´alma é mesquinha
Por querê-la sempre, só minha.
Sua lágrima de dor me incrimina,
Fundo me fende, triste olhar de menina
E rasga meu peito e me inculpa…
Só me resta reconhecer: “mea culpa”!

Joffre Sandin

MÁSCARA

Estamos no Mundo…
Estamos no Universo.
E um artefato com frente e verso
E que não se sabe de onde é oriundo
Mas que, desde que o mundo é mundo,
Talvez, já há trinta mil anos,
Cobre a face de mulheres e homens,
Sejam ou não sejam “sapiens”
Sejam humanos ou desumanos.

Cerimônias pagãs enfeitavam,
Velando rostos, dissimulando olhares,
Mesmo se os olhos não ocultavam;
Disfarce em danças rudimentares.
Mas evoluíram, se transformaram…
Contra maus espíritos foram usadas,
Na passagem, vedavam caras maquiadas,
Em povos em busca do Éden eterno,
Na ânsia do desvio do temível inferno.

Ao longo dos anos, ao longo da vida,
Cobriram as faces de muitos guerreiros,
Fossem imaginários, falsos ou verdadeiros.
Embalaram festas, bailes de fantasia,
A perfídia e traição como companhia,
Da lascívia de nobres e da realeza
Até do povo, mesmo da pobreza.
Alegravam brincadeiras e carnavais,
Fossem modernos ou medievais…

Até que ao fim se lhes deu novo uso
Sério e utilitário, bem longe do abuso.
– Mas, do que tu falas? Eis a pergunta.
– Sigas o que eu disse e verás como se junta.
Tão antigo e usado, o velho objeto,
Que ainda pode servir a motivo abjeto,
É a máscara que hoje protege a saúde
De quem cuida de gente todo dia, amiúde,
Profissionais a espalharem coragem e afeto.

No entanto, máscaras físicas vestem
Os abnegados, os grandes benfeitores.
Como seus pacientes sobre a face as ostentam,
Protegendo quem cuidam, verdadeiros doutores.
Outros, de outro lado, apegados ao poder,
Mestres da impostura, do mentir e esconder,
Sem máscara de pano conseguem usar
A máscara da covardia, especialistas em disfarçar.
Não sabem, contudo, para onde fugir,

No dia em que a máscara finalmente cair…

Joffre Sandin

MULTIUNIVERSO

Com o passar do tempo,
A gente encontra mais tempo
Na soma de horas do dia a dia
Para se impregnar de Filosofia.

Não sei se os cabelos maduros
Vão nos tornando menos duros
Para superar contratempos,
Renovando-nos de tempos em tempos.

Com o constante passar do tempo
Cada vez mais tempo nos sobra
A pensar:- na verdade, há quanto tempo
Iniciou o Criador sua inconclusa obra?

Cientistas falam na “partícula de Deus”
A fazer do “Big-Bang” a ignição
Quem sabe, Deus, à solidão dando adeus,
Ao explodir do nada imensurável vão,

Buscando no inverso do reverso
O surgimento do próprio anverso
Que, fantasticamente se torna verso,
E, enfim, converte-se em Universo.

E aí, ampliando-se o constante pensar,
Ciência, Fisica, Química – tudo se alia,
A se mesclar e cotejar com a Filosofia,
Pondo o pensante em contínuo divagar…

Não se encontram pontos incontroversos,
Pense-se em uma ou mais dimensões,
Vê-se que a Ele não faltaram razões,
Para ciar um, dois ou mais Universos.

Talvez, para que os seres possam migrar
No Multiuniverso, de um para outro mudar,
Quem sabe, por aquele mesmo Portal:
– o que exige do homem que seja mortal…

Joffre Sandin

TANGO

A cada un, una história
Que se busca em la memoria
Y se pone a deslizar
Romantica pareja a danzar..

Con sus cuerpos en justos lazos
Arrastrandose en ardientes pasos
Recurriendo todo el salon
Y a latir fuerte cada corazon…

Lindo acto de amor bailante
Se mezclan a cada instante
Brazos conduciendo la mujer,
Piernas a se tocar por querer…

Y se van entre abrazos se amando
A cambiar sus passos danzando
Así , rozandose em toques sensuales
En sus mentes solo el plazer, sin males…

Hombre , mujer y su desear
Que se puede ver en cada mirar
Mientras que a todos encantan
Y con sus movimientos se avanzan…

Musica lhena toda de amor
Mismo que se venga del dolor
Esto es el tango desnudado
Y por eso siempre tan amado…

Joffre Sandin

TRANCENDENTAL PAIXÃO (SOMOS TODOS CORINTHIANOS)

Não há o que justifique e nem é um problema,
Impressão que é única de qual lado se esteja,
Quando todos se envolvem num mesmo dilema,
Seja ódio ou amor a sensação que sobeja.

Sem saber bem porque, há aqueles que amam,
E sabendo porque, também há os que odeiam…
Quem detesta tem horror de saber da vitória,
E quem ama só pensa em construir a história.

Por que odiar e por que amar tanto?
Essa mescla de raiva e afeto, é sublime.
Luta empolgante que a ninguém exime,
Do sofrer, do querer, do viver e do pranto.

Pouco importa o tempo, o lugar, o momento,
Em metades iguais parte-se o sentimento,
Para uns é fascínio, é calor, é encanto,
Para os outros é inveja, é dor, desencanto.

Não se pode explicar como o foco de tudo,
Seja um time, uma equipe, um conjunto de gente,
Com camisa, uniforme; tudo muito atraente,
E a glória da garra em defesa do escudo.

Há, também, lindo hino que a todos embala,
E outras músicas que brotam da fé da torcida,
Bando louco que chora e que ri pela vida
E nem diante da perda se dobra ou se cala.

Paira acima de tudo, não há bem e nem mal,
É uma fábula, é uma lenda alcunhada Timão.
Não se sabe o que, nem porque da razão
Da existência de senso tão transcendental.

Loucura a encher até mentes mais sãs,
É louvor, oração, reza brava e umbanda,
De uma parte, de outra, desta ou daquela banda,
Prá que perca ou vença, preces certas ou vãs.

Todo peito que, dentro, traga um coração,
A bater muito forte, no sentido que for,
Sangue quente fervendo de ódio ou amor,
Tem por ti, meu Corinthians, a mesma paixão!

Autoria de
Joffre Sandin