Hoje, da vela já não nos lembramos
Superada que foi pela eletricidade
Que nos trouxe tanta prosperidade
Com a qual todos nos acostumamos.
Até, se apagões nos tiram a serenidade,
Temos à disposição a tecnologia,
Que a tudo ilumina com energia,
Inclusive a potente luz de um celular,
Para da antiga vela não mais se precisar.
Entretanto, tendo tal pensamento
Aguça-se a minha curiosidade:
Será que ainda tenho uma de verdade?
Busco na memória e me vem o alento.
Esquecida num canto de gaveta,
Acomodada de maneira bem discreta,
Nostálgico, enxergo uma antiga vela.
Então, só para vê-la trabalhar,
Desligo completamente a eletricidade.
Dentro de uma profunda obscuridade,
Me ponho, encantado, para a vela olhar,
Ateando-lhe o fogo que sua luz revela.
Percebo, então, que, ao se consumir,
Clareia todo o ambiente ao redor
Com um lume tênue mas enriquecedor
Feito em luz que aos outros vai transmitir.
Enquanto em seu próprio fogo se esvai,
Seu corpo diminui com a cera que cai.
Então, começo a pensar e pensar
Comparando-a à humana existência,
Como ela, de efêmera consistência,
Mesmo quando no princípio da vida
Sem entender que está vida é só ida
E que só a luz aos outros concedida
Restará para os que puder iluminar
Como dádiva a, no coração, guardar.
Ao final, qualquer luz vai se apagar…
Joffre Sandin