ACONCHEGO

E aí, a gente se depara com o ar.
Rapidamente, começa a chorar,
Talvez, já de saudade do abrigo
Oferecido pelo amor mais amigo,

Que, na vida se pode encontrar
E sempre e a qualquer momento,
Aflija-nos o mais súbito tormento,
Temos certeza de poder contar.

Tanta coisa linda se pode dizer,
Carinho, calor, luz , proteção,
Coração batendo forte de emoção,

A mão suave sempre a oferecer
Carícia, com braveza ou chamego,
Mãe… Como é bom o seu aconchego!

Joffre Sandin

ENFIM SÓS

Não é possível
E, talvez, nem desejável,
Impedir o avanço do tempo.
E o começo é como passatempo
Até que chegue o momento
Em que se percebe o aumento
Que, na verdade é fomento,
Para o sentimento mudar
Do simples querer
Para um intenso amar…
E a vida se transformar
E, cada vez, ficar melhor.
Um, passa a ser o resultado
Da soma de dois ao quadrado
E o poder de algo maior…
A Amizade incrementando
A vida que vai passando.
E o que sobra não sou eu,
Ao final somos nós
A envelhecer no amor,
Que se acalmou e cresceu
E nos deixou enfim sós…

Joffre Sandin

DE REPENTE

De repente…

A aparência mudou
A força diminuiu
A vida se transformou,
Somou e multipilcou
E o tempo passar não se viu

De repente…

De modo maduro, querer,
Maneira contida de ser,
De falar, de sentir,
Sem escassear o prazer
Nem o ânimo falir.

De repente…

Sabe-se muito mais
Ama-se com consistência
Reza-se com paciência
O sorriso tem mais sabor
As cores do mundo têm mais cor
E se conhece ao certo o que é amor.

Joffre Sandin

COMO SABER?

Como saber o que é a vida, sem viver?
E viver muito. Arriscar, perder e vencer,
Fingir, chorar, invejar, amar e sofrer
E, mesmo assim, avançar e não receber.

De início, tudo é difícil, mas arrebatador
O sexo é intenso e necessário ao amor,
Mesmo no sofrimento, sofre-se com ardor
Paixão, desejo, volúpia gerando calor.

E segue a vida… amar exige u’a mão,
Aquela sempre buscada para a união.
Paixão e sexo parece que toldam a razão
E se afiguram imprescindíveis à relação.

Mas, quanto mais o tempo passa,
Nota-se que o amor não está só no sexo,
Que, na verdade, nada tem de complexo,
Pois afeição e estima a ele trazem graça.

Até as desavenças tendem a purificá-lo,
Como se fora a pedra bruta a lapidar,
Ou ao sentido um constante aperfeiçoar.
A vida em comum o modo de sublimá-lo.

Os seres num constante envelhecer
Tornam-se mais prudentes, é verdade,
E sentem que o sexo é bônus da amizade,
Um doce a se apreciar no entardecer.

Mas, como saber tudo isso sem viver?

Joffre Sandin

ACEITAÇÃO

Prevalece na vida o não!

Ouvir respostas negativas
Não é destino de poucos
Nem é meio de gerar loucos,
Entre pessoas mornas ou ativas.

Nem sempre se tem razão!

Percalços, dissabores são parte
Da rica ou da pobre existência.
Na verdade, são mesmo essência
Do crescer na vida com arte.

Mas, como proteger o coração?

Já soube o Criador protegê-lo,
A ninguém concedeu um só norte,
Talentos acompanham a sorte,
Mas de todos cuida com igual zelo.

Ora, onde estamos nessa multidão?

Somos parte de sistêmica constelação
E prosseguimos desatando os nós
Dos que vieram bem antes de nós
E o nosso único meio… é a aceitação!

Joffre Sandin

A LUZ DA VELA

Hoje, da vela já não nos lembramos
Superada que foi pela eletricidade
Que nos trouxe tanta prosperidade
Com a qual todos nos acostumamos.
Até, se apagões nos tiram a serenidade,
Temos à disposição a tecnologia,
Que a tudo ilumina com energia,
Inclusive a potente luz de um celular,
Para da antiga vela não mais se precisar.

Entretanto, tendo tal pensamento
Aguça-se a minha curiosidade:
Será que ainda tenho uma de verdade?
Busco na memória e me vem o alento.
Esquecida num canto de gaveta,
Acomodada de maneira bem discreta,
Nostálgico, enxergo uma antiga vela.
Então, só para vê-la trabalhar,
Desligo completamente a eletricidade.

Dentro de uma profunda obscuridade,
Me ponho, encantado, para a vela olhar,
Ateando-lhe o fogo que sua luz revela.
Percebo, então, que, ao se consumir,
Clareia todo o ambiente ao redor
Com um lume tênue mas enriquecedor
Feito em luz que aos outros vai transmitir.
Enquanto em seu próprio fogo se esvai,
Seu corpo diminui com a cera que cai.

Então, começo a pensar e pensar
Comparando-a à humana existência,
Como ela, de efêmera consistência,
Mesmo quando no princípio da vida
Sem entender que está vida é só ida
E que só a luz aos outros concedida
Restará para os que puder iluminar
Como dádiva a, no coração, guardar.
Ao final, qualquer luz vai se apagar…

Joffre Sandin

A BENÇÃO

Desde que aqui cheguei
Pela única porta da vida,
Que nesta vida é vivida,
Em outro ser me aconcheguei…

E já senti aquela mão,
A mesma do sim e do não,
Como bálsamo me tocar
E com carinho me abençoar

Pelo caminho, todo o tempo,
Jamais chegando a destempo,
Fazendo-me sempre sentir,
Que não precisava pedir.

Mesmo assim me acostumei,
Estando longe ou perto,
Com muito prazer, é certo,
No tempo que com ela passei,

A falar com aquele coração
Que mesmo ao parar de bater
Vai comigo permanecer
Ainda que em nova dimensão.

Vá , Mamãe, vá com calma
Deixe flanar sua alma
Ao encontro do Criador,
De onde me enviará o calor

O mesmo que sempre pedi
E que toda a vida recebi
Quando, beijando sua mão,
Dizia: Mamãe, sua benção!

“Bença, Mamãe”.

Joffre Sandin

INVEJA

É possível se poder saber
Se o que no coração se trás
Vendo coisas boas, aliás,
Mas que fazem no fundo sofrer,
Já que estranhas aos próprios acervos,
Qualidades e predicados alheios,
A testarem, no íntimo, os nervos,
A gerarem ciúme e receios?

Trazer uma espada no peito
Só porque seja outro o autor
Do que é belo ou que não tem defeito
Ou sucumbir à melhor aparência,
Que provoca lá dentro uma dor
Destruindo toda a paciência,
A inveja corroendo a razão
Sem amor a servir de lição…

Joffre Sandin

MÃOS

Intensos e poderosos instrumentos
São as mãos em todos os momentos,
Desde o afagar do seio que alimenta
Ou empolgar o livro que acrescenta,
A participarem de rodas e folguedos,
Dos jogos e de todos os brinquedos…

Apêndices de tal forma úteis,
Mesmo nas horas mais fúteis,
São capazes de tantas proezas
Nas alegrias e, também, tristezas.
Abraçam e excitam o namoro
E enxugam as lágrimas do choro…

Incríveis ferramentas da arte
São do corpo imprescindível parte
Ao maestro que rege a orquestra
Empunhando a batuta mestra
A liderar músicos em tantas vias
Encantando mentes com melodias…

Concedem ao artista produzir beleza
Com o que vê e sente na natureza
Esculpindo a pedra com seu cinzel
Pintando as telas com seu pincel
Colhendo do mundo o que extasia,
Lápis e papel: a própria vida é a poesia…

Por qualquer caminho ou atalho
Encontram sua razão no trabalho
Produzem coisas e alimento,
Do povo sério sendo o alento,
Mitigam sofrimento e dores
Nas habilidades de alguns doutores…

Às vezes, entanto, têm mal uso
Servem elas à força e ao abuso
Destratam, ofendem e maltratam
Excedem do poder e, até, matam
São mãos de donos com tristes sinas
Que as podem fazer assassinas…

Outras, por sua vez, mercenárias
Pertencem a modernos párias
Ora travestidos de políticos
E que desdenham de seus críticos
Em discursos e remorsos vãos
Palavras sujas pelas próprias mãos…

Por certo, o mal é a exceção
E o que vale mesmo é a emoção
Quando se entrelaçam ardentes,
Companheiras que são do amor
Ou quando amparam os carentes,
Delicadas ao tocarem a flor

Nascem pequenas, fofas e calmas
E crescem logo, e batem palmas
Em festas, progresso e na vitória
Para cada ser há uma história
De quase tudo são as autoras
Em qualquer enredo as lutadoras…

Mas envelhecem, a vida passa…
E não lhes falta uma nova graça
Embora trêmulas e enrugadas,
Ensinam coisas, mostram estradas
Afagam cabelos de novos entes,
Que a sorte lhes deu como presentes…

Joffre Sandin

“MEA CULPA”

Estou tão triste
E é por vê-la tão triste…

Busco na lembrança
Até onde minha mente
Tresloucada alcança
Onde plantei a semente
Que germinou a descrença
E refreou a esperança.

Estou tão triste
E é por vê-la tão triste…

Sei que sem perceber,
Nem sentir, nem querer
A tenho feito infeliz
E não porque assim quis,
Mas por não atinar
Com o quanto a posso magoar.

Estou tão triste
E é por vê-la tão triste…

Sem me poder desculpar
Já que não paro de errar
Ainda que a tenha tão perto
Não encontro o caminho, por certo,
Que a traga pra junto de mim
E sufoque sua mágoa, enfim.

Estou tão triste
E é por vê-la tão triste…

Aceito que a culpa me cabe
E também que ela já sabe
Que perdi o caminho e a mão,
Que não sei mais o que é sedução,
Mesmo amando com tanto fervor,
Incompetente ao mostrar meu amor.

Estou tão triste
E é por vê-la tão triste…

A tristeza no olhar me fere
Tal qual o cinzel que desfere,
Na pedra mais dura o artista,
Para expor o que lá exista,
No meu âmago se encontra gravado
Como é injusto o meu pecado!

Estou tão triste
E é por vê-la tão triste…

Sei que minh´alma é mesquinha
Por querê-la sempre, só minha.
Sua lágrima de dor me incrimina,
Fundo me fende, triste olhar de menina
E rasga meu peito e me inculpa…
Só me resta reconhecer: “mea culpa”!

Joffre Sandin