A PASSAGEM

Alguma hora, algum dia,

No final de uma existência,

Seja mais precoce ou tardia,

Não se evitará a sonolência

 

Própria de quem se aproxima

Da que, talvez, seja a final rima,

Nas imediações do umbral

Limiar do derradeiro portal.

 

Única via da nova dimensão,

Em tão incrível e etérea migração

Sempre difícil aos que atravessam

 

E tão triste para os que ficam.

Assim ocorre ao ser universal:

Deixa a matéria e segue imortal.

 

Joffre Sandin

Sírio Libanês, 8 de janeiro de 2020

 

SEVENTY FOUR

Now I’m turning seventy four

But my mind feels as twenty four.

Unlike the body still bold,

I can’t deny it’s getting old.

 

Wisdon and knowledge

Even growing up time by time

Aren’t able to show the sign

On the running to the edge.

 

Anyway, I shouldn’t complain.

I allways could choose the plain

No matter facing lots of hills

 

 

For building my life and my name

Leaving to my family the frame

To be always good but never bad news!

 

Joffre Sandin

Barraco no Morro, 05 de maio de 2020

 

QUANDO EU ME FOR

Quando eu me for, quero uma festa

Muita alegria e brincadeira

E harmonia a vida inteira

De todos os que ficaram

E que me amam ou me amaram.

 

Quando eu me for, alma flanando

Ainda comigo irei levando

Dos que encheram meu coração

Muito carinho e muito amor

Para uma nova dimensão…

 

Quando eu me for, quero a certeza

De ser lembrado pelos filhos, pelos netos,

Pela alma gêmea que minha vida embeleza,

Donos que são de todos os meus afetos.

E por amigos, que por só o serem, aliviaram-me a tristeza…

 

Aos que fiz bem, querendo ou não

E aos que não fiz, sem saber a razão,

Aos que ensinei, protegi, conduzi

Aos que tentei ensinar e não consegui,

Peço o carinho de uma oração.

 

Sou iluminado pelos amores que tenho,

De minha parceira, princípio da vida,

Pedaços do meu ser, como da árvore é o lenho,

Elos de minh´alma, por Deus ungida,

Seres queridos, só alegram meu cenho.

 

Quando eu me for, serei a estrelinha…

Aquela mesma ao lado da Lua,

Igual às que vimos com nossas crianças,

Pela janela ou brincando na rua,

A abençoar sempre as suas lembranças.

 

Quando eu me for… Ah, quando eu me for…

 

Joffre Sandin

28/02/2018

 

 

 

PRA QUE

PRA QUE?

Não domino minhas reações,
Não importam as razões,
Sejam genuínas ou não,
Lanço dardos ao amado coração.

Sou ríspido, não me contenho
E tantas vezes motivo não tenho
Nem justificativa ou desculpa
Ainda assim, machuco sem culpa.

Ignoro o que tenho atrás da testa,
Pois, ela me oferece uma linda festa
E eu respondo com malcriação

De quem não olha e nem vê,
Que quem ama com devoção,
Maltratar e ofender: pra quê?

Desculpe!
Joffre Sandin

NOME COMPLETO (LUCA)

Lá longe, começa o começo da vida,

Usando, inda tímido, ferramentas da lida,

Caçava espaço, já que espaço não tinha,

Amava a todas, enquanto buscava a minha.

 

Sabia pouco, sem saber que era nada,

Andava muito… começo da estrada,

Nos sonhos, sonhava qual homem valente,

Dando alento e afago à esperança latente,

Indo além do possível, o impossível buscando,

Nada era barreira… e seguia lutando.

 

Rasantes as noites, tão longos os dias,

Oblíquos caminhos nas mais retas vias,

Contava, no entanto, com alma parceira,

Horas, dias e tempos, de minh’alma lindeira,

Amor e calor, muita garra e sabença.

 

Passam os anos, amadurecem os frutos,

Indo ao futuro, multiplicando minutos,

Na mente trazendo a mais bela crença,

Travada na imagem de uma criança,

O amor que se vê, que se quer e que avança…

 

 

Joffre Sandin

04/09/07

 

 

NETOS

A gente tem, ao longo da vida,

Prazeres e, também, dissabores

Incontáveis ilusões, tantos amores

Surpresas às quais a vida convida.

 

Então, vem a benção de ter filhos

E junto, o ônus de pô-los nos trilhos,

Pois não há como alguém se furtar

Da obrigação de proteger e educar.

 

Ao jovem, parece longa a existência,

Que curta se revela à experiência

Trazida pelo quotidiano da lida

De uma vida intensamente vivida.

 

Mas, tudo passa, os filhos crescem

E, como poemas, novas vidas vêm,

Felicidade para os pais de seus pais,

A renovar o amor que na alma têm.

 

Não se ama mais nem menos!

Ama-se de maneira diferente.

É um amor totalmente irresponsável

E por isso muito mais agradável.

 

Aos pais compete sempre educar

Aos avós brincar e, às vezes, ensinar,

Sentir o imenso prazer de escutar

Vovô ou vovó, vozinhas a chamar.

 

Eles são a benção da ancianidade

Mesmo perto, sentimos saudade.

Donos de nossos momentos prediletos,

Como adoramos os nossos netos!

 

Vovô Joffre

Madrugada de 11/10/2019

 

MEU FILHO

MEU FILHO.

 

 

MAIS DO QUE NUNCA NESTA VIDA,

ALÉM DE TUDO O QUE FORA ESPERADO

RECEBI DE DEUS O FILHO AMADO

COM A CERTEZA DE TER CONQUISTADO

ÚNICA DÁDIVA ENTÃO MERECIDA

SELANDO O CAMIMHO NA JUSTA MEDIDA.

 

LÚCIDO, ESPERTO, ATREVIDO E SORRIDENTE

UNINDO A FAMÍLIA, FOI O MEU PRESENTE.

CORAÇÃO GENEROSO SE ABRAÇAVA COMIGO

INSERINDO EM MEU PEITO A PALAVRA AMIGO.

AINDA QUE OS GOSTOS POSSAM NOS DISTANCIAR

NADA NOS SEPARARÁ, MESMO QUE EU ESTEJA AUSENTE…

ONDE ELE ESTIVER, EU TAMBÉM QUERO ESTAR!

 

JOFFRE SANDIN

 

MAR

É muito bom a gente olhar

O que parece não acabar

E que se perde no horizonte

À espera de que o sol desponte

 

E começamos a entender

Que toda água a descer

De todo lado e todo monte

Tem razão para ser fonte

 

Do mar que está à nossa frente.

Da mais caudalosa corrente

Ao mais tímido fio de água

 

Tudo no oceano deságua.

Fraco ou forte vai penetrar

No infinito azul do mar…

 

Joffre Sandin

22/10/2019

 

ESPELHO

Como não relembrar o passado,

Quando vejo um rosto marcado

Pelo tempo que já tanto passou

E nem assim o encanto tirou

 

Do que é ter e viver a vida

E ainda ter a esperança mantida

De reviver tudo que já viveu

E que no fundo da mente é só seu?

 

Como fazer que um reflexo

Não traga um certo complexo

Na mente jovem de um poeta,

 

Que sempre viveu como esteta,

E que sente dobrar-lhe o joelho

Ao mirar só um velho no espelho?

 

Joffre Sandin

18/05/2011

 

 

 

 

LEITO DA NOVA VIDA

No frio ambiente do hospital,

De minha mãe, no último leito,

Aos pés estou, com respeito,

No aguardo do alento final.

 

Única palavra que não tem rima,

Talvez, porquê do Todo, obra prima,

Mãe é só uma, mesmo entre todas

O ser mais terno e mãos mais cômodas.

 

E agora te vejo, Mãe querida

No berço da nova e eterna vida,

Onde, por certo terás guarida

Dos que te amaram nesta vida

 

E te antecederam na saída

Deste planeta de expiação.

Pelos meus erros, peço perdão.

Os meus acertos, obrigação…

 

Só amigos aqui fizeste

Felizes os filhos que criaste.

Prepara o caminho, Mãe querida

Azuleje para nós a nova vida!

 

Joffre Sandin

Sírio libanês, 8 de janeiro de 2020.