Recebi um vídeo muito interessante, que retrata uma aula em que a professora alerta os alunos no sentido de que, naquela oportunidade, seriam submetidos a um teste, sobre o qual não haviam sido previamente avisados.
Em seguida, a professora deposita folhas de papel com o verso para cima na mesa de cada estudante, advertindo-os de que não deveriam desvirá-las antes de receberem a ordem para isso.
Em ato contínuo, autoriza que o façam. Para a surpresa de todos, não havia qualquer questão a ser respondida, mas apenas um ponto negro assinalado bem no centro da página.
Esclarece, então, a professora aos atônitos alunos que deveriam descrever o que viam naquela folha de papel. Curiosamente, todos se concentraram somente no ponto negro e nenhum discorreu sobre a imensa parte clara que havia ao redor.
Assim é a vida. Em todas as direções, em qualquer situação, relativamente a qualquer pessoa próxima ou distante a nós, atemo-nos somente ao ponto negro de cada coisa, de cada ambiente e de toda gente, com particularidade aos que nos são mais próximos e, por paradoxo, às vezes mais caros.
E tal ocorre em relação aos professores, empreendedores, empregadores e chega a agravar-se no que toca aos pais, os principais educadores. Quando se olha o mundo ao redor, jamais se assume a própria culpa, pois é extremamente difícil reconhecer o próprio erro.
Para adotarmos um segmento social como exemplo, no âmbito das relações familiares, muitos filhos – talvez maioria – nunca pensam no que os pais fizeram para lhes prover guarida, proteção, alimentação (muitas vezes com o sacrifício da própria), ensino e educação. Jamais percebem que os pais, o tempo todo, tentaram azulejar as suas estradas, muitas e seguidas vezes criando atalhos para facilitar o seu caminhar. A intenção, na quase totalidade das vezes, era ajudá-los a vencer sem terem que enfrentar os mesmos obstáculos e dificuldades pelos próprios pais superados. Não há sacrifícios que não sejam feitos por pais extremosos. Não há riscos que não sejam corridos para evitar que os males da existência, exacerbados pelo egoísmo incutido nas pessoas que povoam o planeta, alcancem suas famílias. Tudo isto está contemplado na parte branca da folha!
Não obstante, esses mesmos pais são só seres humanos. Muitas vezes, na constante intenção de acertar, podem exacerbar-se. A permanente obrigação de proteger, às vezes, pode levar ao desconforto da relação familiar. Nasce, em função disso, a necessidade de contestar, de enfrentar, de considerar só os erros e não os acertos dos pais. A experiência vale menos do que a falta dela na gestão da própria vida. Filhos já sabem tudo, assim que saem das escolas, ainda que permaneçam na dependência dos pais. Falta-lhes paciência para o trato e não se esquecem de um único e eventual beliscão ou de uma ausência num jogo de futebol. Não são consideradas noites mal dormidas ou a necessidade de trabalho noturno. E tantas vezes a atitude de falta de reconhecimento e de ostensivo confronto só piora quando filhos de famílias distintas se unem para a constituição de novas famílias. E vai, ao longo do tempo, acontecer tudo de novo. Aí está o ponto negro.
Em todos os sentidos e em todos os segmentos, de um ou outro modo, repete-se a mesma experiência, só se mirando o minúsculo ponto negro e jamais a parte alva da folha. E o mais notável de tudo é que só se percebe isso quando a pessoa sente ser só um ponto negro sem que se note quão brilhante é a sua aura clara.
Joffre Sandin